Conjur: A importância do relacionamento no ambiente de trabalho
Conjur: A importância do relacionamento no ambiente de trabalho
Por Carlos Alberto Bitinas
É sabido e tido como verdade, entre os gestores de recursos humanos, o dito que “contrata-se pela competência técnica e demite-se pela incompetência comportamental”.
Ou seja, o profissional pode ter boa capacitação técnica — fundamental, aliás —, mas nem sempre traz proporcional e adequado preparo comportamental para relacionar-se com as pessoas com as quais convive: colegas; chefes; liderados; clientes; fornecedores; parceiros; e comunidade.
Reconheçamos, quanto maior o espectro relacional, maior a competência necessária para administrar, até o próprio comportamento, pois o público é heterogêneo.
Há também alguns outros aspectos importantes. O ser humano não é totalmente previsível, como uma linha reta, por assim dizer; o comportamento sofre oscilações em função de muitas variáveis da vida e pode ter elevado grau de imprevisibilidade.
E, também, o ambiente organizacional é simultaneamente permeado por relações formais, regulamentadas e hierarquizadas, e por relações informais, decorrentes do convívio ao longo das jornadas de trabalho e fora delas.
Ao mesmo tempo, vivem-se relações de conflito e de harmonia, de interesse e de casualidade, de poder e de amizade, de amor e de ódio, enfim.
As chamadas relações socioprofissionais são complexas e não é fácil administrar tal fenômeno.
Tem-se que a cada cinco demissões realizadas pelas empresas, em função do desempenho do profissional — portanto, não se consideram aqui os motivos econômicos e também os de adequação da estrutura da empresa — quatro, sim, quatro o são por razões comportamentais e apenas uma por insuficiente desempenho técnico.
Atentar para o problema é necessário, na medida em que suas consequências causam importantes reflexos, dentre muitos, no ambiente de trabalho, na retenção de talentos, no relacionamento com o mercado e nos resultados econômicos.
É recomendável, então, refletir, incentivar e porque não dizer adotar mínimos padrões comportamentais para a prevalência do bom e salutar relacionamento:
1. Franqueza
É melhor do que a muitas vezes propalada transparência, pois o ambiente empresarial nem sempre a permite plenamente. Ser franco, sempre, é comunicar o que pode e deve ser comunicado, adequadamente e com clareza. Há limites para as informações e tratar disto com maturidade é sinal de sabedoria.
2. Educação
Elemento básico e fundamental do respeito, que todos gostam de receber, mas nem sempre sabem dar. Hábitos simples como pedir por favor, dar bom dia, pedir licença, usar o tom de voz e o palavreado corretos, não interromper e ouvir o outro, ceder à vez. Práticas ensinadas por boas famílias e, infelizmente, cada vez mais raras.
3. Bom humor
Frequentemente confundido com excesso de humor, o que pode ser danosamente inconveniente. Da mesma forma que o são a ironia, o sarcasmo, o desdém provocativo, a zombaria de caráter humilhante. O bom humor é necessariamente inteligente e criativo — por isso, tão escasso.
4. Postura adequada
Saber comportar-se de acordo com o ambiente que o cerca e com as suas circunstâncias. É ótimo gritar freneticamente em um estádio ou em um show. É desmedido fazê-lo em um culto religioso tradicional, por exemplo.
5. Humildade
Reconhecer seus limites, fraquezas e erros com naturalidade. E mais, reconhecer e dar o merecido valor ao outro. A competitividade do ambiente organizacional parece que intimida a humildade. Nem tudo é disputa.
6. Compreensão
Entender, verdadeiramente, o outro. Não há dois seres humanos que são iguais, que pensam e agem exatamente da mesma forma. Nem sempre é fácil lidar com as contrariedades, mas as diferenças existem, são necessárias e enriquecedoras.
7. Colaboração
Co-laborar é trabalhar junto, mesmo quando isso não é previsto ou pedido. A boa vontade e o bem fazer são comportamentos vitais para a saúde dos relacionamentos e do clima organizacional.
É claro que existem muitas outras virtudes que poderíamos acrescentar a esse pequeno conjunto, o qual parece ser suficiente para provocar alguma reflexão sobre como nós e os outros nos comportamos, como nos realizamos e como sofremos com os relacionamentos.
Aliás, o admirável José Saramago tem uma frase que diz que “o certo e o errado são apenas modos diferentes de entender nossa relação com os outros”.
É para se pensar… E para atuar em prol dos bons relacionamentos.
Carlos Alberto Bitinas é consultor da VOC Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, palestrante e professor especializado em gestão de pessoas e desenvolvimento organizacional. Graduado em Administração de Empresas e Economia pela Faap, Coach Executivo & Pessoal certificado pelo ICI – Integrated Coaching Institute, pós-graduado em Gestão Estratégica e Total Quality Management pela FGV-SP, e Comunicação Empresarial pela ESPM; foi Executivo em empresas nacionais e multinacionais e professor convidado em cursos de pós-graduação da FGV/GVlaw-SP, UNISINOS-RS e IICS/CEU-SP, além de vice-presidente do CeaEAE – Centro de Estudos de Administração de Escritórios de Advocacia.
Revista Consultor Jurídico, 9 de agosto de 2013.